Certa vez na estrada, fui parado numa blitz. A guarda me perguntou a data. Respondi dia e mês. "E o ano?", ela insistiu como se eu fosse um viajante do tempo. Foi assim que descobri que minha habilitação estava vencida havia quase dois anos. Até o design já era outro, que ela aproveitou para mostrar como uma verdadeira relíquia pros colegas. Parece que há entre eles um consenso de que o projeto gráfico antigo era mais bonito, porém mais inválido também.
Anos mais tarde, numa outra blitz, descobri com um ano de atraso que minha habilitação seguinte, mesmo com seu design contemporâneo e arrojado, estava também vencida. Confesso que não é o tipo de data que decoro, então esse lembrete sutil me tem sido dado por multas de trânsito.
Em toda blitz que me para, não importa meu grau de confiança: sempre vem à tona uma inconsistência fiscal, mecânica ou documental totalmente imprevista por mim. Por isso, desenvolvi um quadro grave de conefobia, caracterizado por "medo e/ou insegurança diante de objetos cônicos listrados de branco e laranja posicionados sobre superfícies de asfalto".
Sincronicidades
Quando direcionamos nossa atenção a algo, aquilo passa a ser nosso mundo. Tendemos a fazer mais associações, esbarrar com versões daquilo em mais lugares e situações. Podem ser infrações de trânsito, móveis, pessoas ou temas interessantes... Só por estarmos abertos e interessados em algo, já atraímos isso à nossa atenção mais do que antes.
Há quem chame de coincidência, acaso, intervenção divina. Carl Jung chama essas "ocorrências fortuitas de eventos interconectados" de sincronicidade. Ao perseguir uma curiosidade ou fascínio, várias pistas começam a aparecer. E a cada descoberta, vamos seguindo as pistas seguintes.
"Salte, e a rede irá aparecer"
No mundo entulhado de informações em que vivemos, se guiar pela atenção (ao invés de pela dispersão) nos ajuda a ser produtivos e mentalmente sãos ao mesmo tempo. Então sabe aquele seu projeto sempre adiado, aquele outro que nunca sai do lugar ou aquele interesse nunca levado a sério? A cada passo dado em direção a ele e o universo dá conta de abrir outras portas em sincronia. Isso é fé, confiança e coragem.
Oração
Ney Matogrosso tem um álbum não à toa chamado "Atento aos sinais". A letra de uma das faixas me passa bastante essa ideia de fé confiante e corajosa.
"Se pudermos treinar a mente para escolher com sabedoria o foco de sua atenção, seremos capazes de experimentar o mundo de acordo com nosso estado mental" - Haemin Sunim
"Começos genuínos se iniciam dentro de nós, mesmo quando são trazidos à nossa atenção por oportunidades externas" - Haemin Sunim
Jabá da semana
- Meu novo single já está no ar! A música se chama "Íris" e canto ela junto com a Mulher Barbada. Se ainda não ouviu, segue essa pista! (capa: Daniel Chastinet)

- Fiquei bastante impressionado com o "Falando da Vida". É um show cênico-musical com vários artistas de destaque na música, dança e outras linguagens de Fortaleza.
- O "Ruas Biográficas" é um projeto de memória que traz microbiografias das pessoas que denominam ruas, avenidas, alamedas e travessas de Fortaleza. Desde 2014, eles mantêm um interessante perfil no Instagram e atualmente estão em campanha de financiamento coletivo do livro físico.
Obrigado!
Fiquei bastante feliz - e confesso que surpreso também - com o retorno que vocês têm dado sobre as newsletters. Já esperava uma troca bem interessante, mas as respostas e o envolvimento superaram qualquer expectativa. Se conhece alguém que também gostaria de receber esses emails, recomenda :)
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Caio Castelo toca, escreve e produz
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