Uma das coisas que mais adoro fazer na vida é produzir álbuns em retiro. Viajar e passar vários dias num sítio com amigos dedicando o dia inteiro a fazer música é minha definição de paraíso. Tudo parece soar tão diferente longe dos atropelos da cidade grande que fica fácil se habituar a, de tempos em tempos, buscar pretextos para a próxima mudanças de ares. É o deslocamento como método.
Em seu livro Walden, H.D. Thoreau conta sobre os dias em que, para lavar o chão de casa, colocava toda a mobília do lado de fora. Ao observar suas coisas ali na grama, sob a luz do sol, chegava a achar os objetos diferentes, talvez até felizes por saírem um pouco, antes de voltarem contrariados para dentro.
"Os objetos mais familiares parecem muito mais interessantes fora do que dentro da casa" - H.D. Thoreau
Já o músico e produtor Jack Antonoff, quando era mais novo, compunha sempre no seu quarto, até que um dia decidiu ir com seus instrumentos até o porão ver o que aconteceria. Algum tempo após também “esgotar essa área”, levou as coisas para a garagem e assim por diante.
Lugares novos para ajudar a compor coisas novas. Faz sentido.
"É em termos espaciais e temporais, ou seja, em termos de um movimento interior, que avaliamos a percepção de nós mesmos e nossa experiência do viver" - Fayga Ostrower
Ao trocar o contexto que nos rodeia, nossa visão de si e das coisas que levamos àquele lugar adquire contornos novos e inesperados, como uma pilha de móveis na grama esperando o chão de dentro secar.
Autoexílios
Também gosto de documentários que mostram o processo de gravação de álbuns feitos em algum tipo de isolamento. Alguns dos que sempre me vêm à mente são o do Ventura (Los Hermanos), o do Blood Sugar Sex Magik (Red Hot Chili Peppers) e o do Exile on Main St. (Rolling Stones). Quando viajei com minha banda pra gravar o Dois Olhos, até fizemos um minidoc.
Jabá da semana
- Oficina Música em Cena: Criações musicais para Teatro com Zéis.
- Saiu o primeiro episódio da 3a temporada de Nós no Batente, série documental que apresenta vivências de artistas no Ceará.
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Nos deixou essa semana a musicista, regente e professora Izaíra Silvino, com sua maneira sempre contagiante e transformadora de fazer e falar de música.
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