Quando a designer e pesquisadora colombiana Juliana Castro se mudou para a Itália, percebeu algumas coisas comparando sua língua nativa, o espanhol, ao italiano.
A primeira delas é que há muitas palavras escritas da mesma forma nas duas línguas, mas que definem coisas bem diferentes. Por exemplo, pronto em espanhol quer dizer em breve, enquanto em italiano significa algo concluído. Já burro em espanhol se refere ao animal, enquanto em italiano é como chamam a manteiga. Interessante notar que, em português, essas correspondências se invertem, compartilhando significado com o italiano em pronto, mas com o espanhol em burro.
Outro detalhe são os verbos de ação, que oferecem pistas sobre como cada cultura se relaciona com o mundo. Por exemplo, em português e espanhol, atenção é algo que se presta. Em inglês, algo que se paga (pay attention). Em francês, algo que se faz (faire attention). Em espanhol, cuidado se tem (tener cuidado), em inglês se toma (take care) e em português usamos ambos.
Será que o cuidado que se tem é diferente do cuidado que se toma? E que nossa atenção muda dependendo de nossa relação com ela ser de prestar, pagar ou fazer?
"Quando um violino repete o que o piano acabou de tocar, ele não reproduz o mesmo som. Mas pode, no entanto, tocar a mesma melodia" - John Ciardi
Estudos demonstram que sim. Não que a linguagem limite nossa percepção do mundo, mas ela pode sim direcionar nossa atenção e cuidado para determinados aspectos da vida, dependendo do idioma e da cultura. E é uma via de mão dupla, já que nossa experiência e uso também moldam a língua constantemente.
Idiomas diferentes filtram, focam e pensam coisas diferentes. Crianças chinesas aprendem a contar mais cedo, pois o nome dos números é mais intuitivo: por exemplo, onze é dez um (shíyī), doze é dez dois (shí'èr) e assim em diante.
Também no chinês, a relação com o tempo se dá de outra forma, sem conjugações verbais. Se em português pensamos em termos de passado, presente e futuro, em yimas (que se fala na Papua-Nova Guiné) existem quatro passados além do presente e do futuro.
"Não sei o que dizer, só sentir"
A linguagem também influencia, por exemplo, como cada povo percebe as cores, laços sociais, se orienta geograficamente ou reconhece sentimentos até bem específicos. Juliana Castro tem uma seção no site Are.na em que cataloga sensações compartilhadas por todos os humanos, mas que só alguns idiomas se deram ao trabalho de nomear.
Tem umas bem curiosas, como mencolek (do indonésio, chamar alguém cutucando o ombro pelo outro lado, fazendo a pessoa se virar pro lado errado), epibreren (do holandês, fingir que está fazendo algo muito importante quando na verdade não se está fazendo nada) e age-otori (do japonês, ficar feio após um corte de cabelo).
Das 73 da lista, duas vêm do português: saudade e cafuné :)
Jabá da semana
- Fevereiro, novo single do Zéis e da Luiza Nobel.
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Caio Castelo toca, escreve e produz
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